BONGA É PATRIMÓNIO NACIONAL E NÃO PROPRIEDADE DO MPLA OU DA UNITA

Os intolerantes são aqueles que chamam os outros de incoerentes. O Bonga não assinou nenhum acordo de exclusividade com a UNITA e o MPLA não deve exibir o Bonga como seu troféu por este ter participado do encontro com o Presidente da República.

Por Malundo Kudiqueba

Bonga não é propriedade de nenhum partido político; ele é património nacional e até internacional. A sua arte transcende barreiras políticas e é apreciada por angolanos de todos os espectros ideológicos. Como uma figura cultural emblemática, Bonga representa a identidade e a diversidade de Angola por meio de sua música e mensagem.

Bonga não deve dar satisfações nem explicações a ninguém e deve falar com quem ele quiser. A capacidade de reconciliação e diálogo é uma marca de maturidade política e social. Se até mesmo inimigos históricos podem encontrar um terreno comum e buscar a paz, por que não permitir que o Bonga, um símbolo nacional e artista respeitado, se encontre e converse com o presidente João Lourenço?

Bonga tem o direito de se encontrar com líderes de diferentes partidos políticos sem restrições, pois a sua contribuição para a cultura e a identidade angolanas vai além das divisões partidárias. Ele é uma fonte de orgulho nacional e um símbolo da unidade através da música. É importante reconhecer que as pessoas têm o direito de evoluir nas suas opiniões e posições políticas com base em novas informações ou mudanças nas circunstâncias.

A UNITA não pode reclamar dos angolanos da diáspora, os angolanos da diáspora é que devem reclamar da UNITA. Os angolanos residentes no estrangeiro apoiaram massivamente a UNITA aquando das últimas eleições em 2022. A falta de reconhecimento e agradecimento da UNITA pelo esforço dos angolanos da diáspora provocou alguma desilusão por parte de algumas pessoas. Em meios privados alguns dos nossos compatriotas que participaram do encontro com o presidente João Lourenço têm vindo afirmar que UNITA e MPLA actuam da mesma forma em relação aos angolanos da diáspora.

O presidente João Lourenço fez uma operação de charme e os membros da UNITA não têm autoridade moral para criticar ou chamar pessoas como o Bonga de incoerente. O Bonga não assinou nenhum acordo político com a UNITA. O único acordo, diga-se de passagem, estranho e original que Angola alguma vez assistiu foi assinado entre uma única pessoa e um grande partido político. Estou a falar do célebre acordo entre o deputado Francisco Viana e a UNITA.

Os deputados da UNITA não devem criticar ou julgar os músicos que participaram neste encontro. Quando a UNITA convidou o músico Eduardo Paím para as suas actividades os deputados do MPLA não criticaram o músico em questão. Por outro lado, neste encontro de Lisboa com a comunidade angolana o presidente João Lourenço estava em representação do País e não do MPLA.

Defendo que o governo e a oposição estabeleçam diálogo com a diáspora angolana, reconhecendo a importância de incluir e ouvir as vozes dos angolanos que vivem no exterior. Tenho falado frequentemente sobre este assunto no “Programa da “TV8-NEWS-ANGOLA” de William Tonet. A UNITA deve tirar as suas ilações e começar a estabelecer pontes com a diáspora. Não estejam muito confiantes até porque os angolanos da diáspora são impacientes e não estão no bolso de nenhum partido político.

Nesse contexto, não podemos criticar o encontro entre o presidente e a comunidade angolana no estrangeiro, pois representa um passo na direcção certa para promover a participação e o envolvimento dos angolanos fora do país nas questões nacionais. A música de Bonga é uma força unificadora que atravessa barreiras sociais e políticas. Ele não canta exclusivamente para membros de um único partido político, mas para toda a nação angolana. Sua arte tem o poder de aproximar pessoas de diferentes origens, inspirando um senso de unidade e pertença.

É crucial reconhecer que a diáspora angolana tem um papel significativo no desenvolvimento e na imagem internacional de Angola. Portanto, em vez de criticar, devemos valorizar e apoiar iniciativas que fortaleçam os laços entre o governo e a diáspora, permitindo que ambos trabalhem juntos na construção de um futuro mais promissor para todos os angolanos, independentemente de onde estejam no mundo.

É válido e até necessário que como cidadãos, questionemos e critiquemos os gastos do presidente, especialmente quando se trata de recursos públicos que devem ser utilizados com responsabilidade e transparência. As despesas do governo são uma área legítima de escrutínio público, e os cidadãos têm o direito de exigir prestação de contas e eficiência na utilização dos fundos do Estado. No entanto, o encontro do presidente com os angolanos da diáspora é uma questão completamente diferente.

É importante reconhecer que os angolanos que vivem no estrangeiro são parte integrante da comunidade nacional, mesmo estando fora do país. O presidente representa todos os angolanos, independentemente de onde residam, e é fundamental para o líder de uma nação manter laços com a sua diáspora. Termino enviando um recado aos políticos. Pessoalmente, gostaria que em Angola tivéssemos muitos “Bongas”. Infelizmente só temos um, por isso devemos respeitar os poucos bons que ainda estão em vida. Bonga é um testemunho da rica diversidade e complexidade da experiência angolana, e sua abordagem inclusiva reflecte o desejo de promover a unidade e a compreensão em toda a nação.

Este texto foi escrito escutando – “Comeram a fruta”, música de Bonga.

Foto. Bonga com o director do Folha 8, William Tonet, em Dezembro de 2016

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